Formar um bloco Sindicalista Revolucionário na CSP-CONLUTAS

* Carta aberta à Resistência Popular (RP), ao Fórum de Oposição pela Base (FOB) e a todos os trabalhadores militantes sindicalistas classistas e combativos

A intenção deste comunicado é convocar os companheiros sindicalistas organizados tanto no FOB quanto na RP – ou mesmo militantes independentes outros – a debater uma plataformacomum a fim de conformarmos uma frente sindicalista revolucionária na CSP-CONLUTAS. Isto devido a três pontos: (1) articularmos um bloco é uma estratégia adequada a fim de potencializarmos nossas intervenções em espaços mais amplos dos trabalhadores, rompendo assim com nosso cômodo isolamento em nossas próprias correntes; (2) a luta de classes impõe a necessidade de compormos e disputarmos organizações da classe trabalhadora das mais diversas escalas e dimensões; (3) a CSP é, hoje, o principal polo de reorganização da classe trabalhadora à esquerda e por fora da moribunda CUT, e é a única organização sindical de amplo porte que possui o potencial de efetivamente unir os trabalhadores contra os ataques dos capitalistas e estatistas que se intensificam com o acirramento da crise econômica e política.

Um ponto outro, que possuí caráter programático, é o da unidade na luta entre as diversas correntes componentes dos movimentos organizados da classe trabalhadora – todo e qualquer sectarismo na ação é um enorme atraso para a causa de nossa classe, e serve somente aos interesses do capital e do Estado. Marchando ombro a ombro e golpeando como um só punho unificado, seremos imbatíveis.

bloco sindicalista

| A necessidade de nos movimentarmos em todas as dimensões da luta de classes |

É absolutamente imprescindível que militantes orientados por um programa revolucionário de horizonte anarquista disputem as mais diversas dimensões da luta de classes – devemos estar presentes seja nas lutas cotidianas contra as arbitrariedades e abusos cometidas pelos chefetes nos locais de trabalho e estudo, seja na resistência contra as incessantes tentativas de impor arrocho salarial e precarização realizada pelas patronais na escala das categorias profissionais, ou mesmo na defesa contra os ataques gerais à classe trabalhadora perpetuados especialmente pelos diferentes governos do Estado-nação. Abrir mão de intervir e disputar qualquer um destes espaços é tanto abandonar nossos companheiros trabalhadores à própria sorte, quanto condenar a prática militante às limitações e fraquezas. Sem articular-se de maneira ampla, mesmo a luta mais pontual, local e corriqueira, terá sua potência diminuída.

Faz-se necessário assumirmos responsabilidades diante da luta de classes e abandonarmos fraseologias que no fundo servem somente para justificar nossas fraquezas: expressões como “construir de baixo pra cima” não podem servir, de maneira alguma, como desculpa para não intervirmos em todos as dimensões da luta de forma firme, organizada e compromissada.

É um erro compreender a atuação mais imediatamente na base como contraditória com a militância nas entidades de categorias e nas centrais sindicais – muito pelo contrário: sem termos uma estratégia adequada e que articule de maneira coerente nossa atuação em todas as dimensões, estaremos inevitavelmente fadados ao fracasso – seja na atuação de “base”, seja nas categorias profissionais, seja na classe trabalhadora como um todo.

Peguemos como exemplo a ainda em curso luta contra os ataques gerais do governo federal à classe trabalhadora que foram expressos principalmente na PL 4330 e nas MPs 664 e 665. Uma resposta contra uma ofensiva tão geral demanda articulações igualmente amplas. Dada a realidade atual da luta e da organização da nossa classe no Brasil, somente as centrais sindicais possuem a possibilidade de cumprir esta importantíssima tarefa. Frente a isso, é certo que teríamos melhores condições de intervir neste enfrentamento caso estivéssemos blocados e inseridos em uma central, como a CSP, do que apartados e isolados – situação a qual nos condena a compormos quase que passivamente as iniciativas amplas, ou a realizarmos críticas simplórias comparando o processo da luta dos trabalhadores como este realmente se dá com modelos ideais e idealistas de como ele deveria ter se dado. Teríamos a possibilidade de colocar e realizar propostas que, por exemplo, tirassem a “construção pela base” do plano retórico e do mundo das ideias, concretizando esta em propostas práticas e aplicáveis à luta de classes como esta realmente existe – fortalecendo a importância do envolvimento amplo do conjunto dos trabalhadores, a organização de reuniões por local de trabalho, assembleias de categoria, entre outras.

A luta de classes é, no limite, uma só guerra. Cabe a nós formularmos uma estratégia coesa e coerente para todas as suas batalhas, independente da escala destas. Furtar-se desta tarefa é deixar a história escapar de nossas mãos. Furtar-se desta tarefa não é uma opção para o anarquismo revolucionário.

| Porque devemos estar na CSP-CONLUTAS? |

O último grande projeto político abraçado pela classe trabalhadora, a socialdemocracia petista, tivera como espaço sindical nacional a CUT. Entretanto, com o avanço da degeneração deste, avança-se o processo de rompimento e de reorganização da nossa classe a partir de outros polos. Este resulta hoje em três fóruns sindicais de abrangência nacional: as duas INTERSINDICAL e a CSP-CONLUTAS.

A INTERSINDICAL, que outrora fora uma organização única composta por diversas correntes – como a ASS, UC, CS, RP etc – hoje se encontra enfraquecida e divida em duas – uma composta quase que tão somente pela ASS, e a outra por algumas correntes do PSOL. Além disso, seu funcionamento é consideravelmente menos orgânico se comparado ao da CSP. Esta outra, pelo contrário, tem desempenhado uma política mais coerente na luta de classes e atraído pra si setores diversos da classe trabalhadora organizada, extrapolando até mesmo o campo sindical urbano. Hoje a CSP conta com filiação de sindicatos/oposições de metalúrgicos, petroleiros, construção civil, rodoviários, metroviários, professores, funcionalismo público, trabalhadores da saúde, assalariados rurais, assim como movimentos populares do campo e da cidade, movimento de mulheres e movimento de negros. A organização política de maior peso nesta central é inquestionavelmente o PSTU, além dele, algumas correntes do PSOL (em sua maior parte recém-migradas da INTERSINDICAL) e muitos outros agrupamentos menores.

Outro fator que faz da CSP a melhor opção é a sua articulação internacional. Hoje, esta central compõe uma rede internacional junto com a Solidaire (francesa) e a CGT (espanhola) – ambas organizações sindicais politicamente relevantes em seus respectivos países e que possuem uma orientação bastante combativa. Dado o caráter global do modo de produção capitalista, construir articulações internacionais de trabalhadores se coloca como uma necessidade imediata.

Ou seja, urge intervirmos na reorganização da classe trabalhadora na escala das centrais sindicais e, dentre as três iniciativas em curso, a CSP é a que hoje já abarca uma parcela maior e mais diversificada de nossa classe, assim como é a que já tem se destacado e mostrado maior potencial de efetivamente se tornar um polo central no processo de rompimento com o petismo. Mesmo que esta previsão venha a não se realizar, ainda assim terá sido correto o passo no sentido de abandonarmos o isolamento e firmarmos uma frente a fim de nos lançarmos na disputa da política ampla da classe trabalhadora. Faz-se preciso o quanto antes intervirmos e compormos em todas as escalas o processo de reunificação e reorganização de nossa classe.

Somente assim, somente com uma política de curto, médio e longo prazo pragmática e coerente, adequada à realidade contemporânea que o anarquismo voltará a ter relevância na luta de classes e – quem sabe – novamente intentar dirigir a nossa classe trabalhadora à revolução social, à tomada do poder, dos meios de produção e da destruição do Estado.