* Panfleto com nossa posição sobre a luta contra o aumento
* unidade da classe e luta na rua *
Milhões de pessoas pegam ônibus, metrô e trem diariamente para se deslocarem aos seus trabalhos e às suas escolas. Todas estas conhecem muito bem a precária situação do transporte de massas na grande São Paulo – atrasos, superlotação, falhas, acidentes e mesmo assédio, no caso das mulheres, fazem parte do nosso cotidiano. Assalariados em regime CLT, pagam 6% de seu salário tão somente para irem e voltarem do trabalho; muitos outros arcam sozinhos com o custo das tarifas. Desse enorme setor de nossa classe, a luta contra o aumento das tarifas mobiliza e aglutina, já há anos, uma grande quantidade de pessoas organizadas das mais diversas maneiras – no atual período, é efetivamente a pauta mais unificadora.
Para barrarmos o aumento, devemos aproveitar ao máximo o enorme alcance e o amplo leque de lutadores que se envolvem nesse embate. É exatamente neste ponto que reside a importância do Bloco de Luta: ele que tem a possibilidade de ser o fórum de planejamento de estratégias e execução de ações em comum de todas as forças na luta. Neste sentido, nós saudamos a fundação do Bloco e convocamos todos os grupos e pessoas que compõem a luta contra o aumento – em especial o MPL – a somar forças neste espaço.
* pragmatismo na análise e radicalidade na ação *
O fórum que estamos construindo pode tornar-se o principal pólo aglutinador, todavia, para tal faz-se necessário evitarmos alguns equívocos e vícios típicos de uma esquerda reformista e também, muitas vezes, idealista.
Para barrarmos o aumento é preciso nos focarmos no que nos unifica e que de fato, na atual conjuntura, pode ser conquistado: barrar o aumento da tarifa. É a luta para barrar o 3,80 que nos unifica e que pode ser vencida. Debatermos qual seria a pretensa solução ideal para o transporte de massas no enorme conurbado urbano da grande São Paulo, só serviria para nos desgastarmos e perdemos tempo inutilmente. Até mesmo pois, não somos e nem queremos ser gestores do Estado, tampouco haverá qualquer solução real para qualquer um dos problemas de nossa classe sem rompermos com o modo de produção capitalista. Não temos dúvidas de que os trabalhadores, em seu conjunto, terão o controle dos trens e ônibus e garantirão um transporte de qualidade e gratuito, mas não tenhamos dúvidas de que o teremos nos organizando e tomando os trens e ônibus – e todo o resto – não a partir de uma concessão estatal.
Mas também, não podemos nunca perder o horizonte de que somente a luta radicalizada poderá nos trazer algum resultado. As plenárias do Bloco precisam se tornar um espaço de debate, deliberação e organização de ações em comum. O maior perigo que este fórum corre é o de tornar-se mais um espaço de palanque: saturar-se em inflamados discursos, cheios de combatividade em suas palavras, mas vazios de ações reais. Infelizmente sabemos que este é um risco bem real, pois recorrentemente fóruns de esquerda recaem nesse lamaçal.
Neste ponto, reconhecemos o acerto dos militantes do MPL, assim como dos secundaristas na luta contra a “reorganização”, de não confiarem em nada senão nas suas organizações e na ação direta; nas manifestações de rua, nas ocupações, no trancamento de vias e terminais estratégicos. O Bloco de Luta não pode nem se tornar um espaço infértil de meras palavras bonitas, tampouco achar que algum parlamentar poderá nos ajudar.
* superar os limites do autonomismo e os vícios reformistas da esquerda *
Barrar o aumento da tarifa é possível. Uma enorme vanguarda de milhares de lutadores, das mais diversas categorias de trabalhadores, escolas, universidades, bairros, está mobilizada para este combate. Este contingente não está disposto ao arrego – é provável que ainda teremos uma longa jornada pela frente. É preciso, a partir dessa diversidade e empenho, enraizarmos a luta, radicalizando, massificando e generalizando a revolta popular contra o 3,80. Para tal, é essencial superarmos o atomismo e o sectarismo de parte dos setores – em especial do MPL e do autonomismo – e unificarmos forças, organizando a luta coletivamente. Todavia, a superação desses limites não pode, de maneira alguma, resultar num recaída nos velhos vícios reformistas da esquerda. Ainda que o Bloco de Luta seja o espaço onde a unidade na ação de todas os setores em luta possa ser realizada, ele só conseguirá cumprir seu papel superando as limitações sectárias do autonomismo – assim como dalgumas forças já inseridas neste fórum – e, simultaneamente, o risco de se tornar um espaço infértil de disputas utópicas e longos discursos, que não se materializam em ações concretas.
Superar, de uma só vez, os limites do autonomismo e os vícios reformistas da esquerda é o desafio que a atual conjuntura da luta da classe trabalhadora e sua juventude contra a piora nas suas condições de vida nos impõe.
3,80 NÃO!