* apontamentos sobre a conjuntura e estratégia
Nas últimas semanas a disputa ao redor da cadeira executiva do governo federal tomou novas proporções. Impulsionada por uma sucessão frenética de acontecimentos, ganhou capas de jornais, virou manchetes de noticiários e centro de debates não somente entre militantes, mas da população em geral. As pessoas passaram a se sentir impelidas a se informar, discutir e fazer algo sobre os últimos eventos. Mas diante dessa ânsia, dois equívocos principais têm sido recorrentes – tanto das pessoas que se interessaram por política recentemente, quanto dos militantes e partidos de esquerda – dificultando um posicionamento mais preciso e efetivo da classe trabalhadora. Não à toa esta não tem conseguido responder de maneira independente não só a essa questão pontual, mas a muitos outros ataques que lhe tem sido desferidos.
A vontade de resistir e agir são evidentes: o número de greves aumenta a cada ano e paralisações nacionais contra os ataques foram realizadas dentro das suas possibilidades, ao passo que nos últimos tempos fábricas são ocupadas. No entanto, também é nítida a ausência de uma resposta de conjunto dos trabalhadores enquanto classe. Ao seguir focados na disputa em jogo pela presidência, grande parte das pessoas e mesmo da oposição à esquerda ao petismo, não tem conseguido sair do campo da falsa polarização criada pelos dois lados da mesma moeda: o petismo e a oposição capitalista de direita. Com isso, perdem-se cada vez mais no turbilhão de acontecimentos e caem assim no primeiro equívoco frente à atual conjuntura: tomar o lado de um dos setores que disputam a gestão do Estado capitalista em detrimento do fortalecimento da organização independente da classe trabalhadora.
| Petismo e a oposição de direita são opções? |
A cada dia cresce o número de partidos de esquerda que, perdidos entre o petismo e a oposição de direita, acabam por escolher entre uma das “opções”, ao mesmo tempo em que se esforçam para dar roupagem “revolucionária” às bandeiras evidentemente capitalistas hasteadas de ambos os lados.
Os que optaram por orbitar ao redor do petismo apresentam dois argumentos para embasar a sua posição: primeiro afirmam que há em curso um golpe contra a democracia do empresariado; segundo ressaltam que a luta é contra esse golpe e que a aliança (ou apoio velado) com o petismo é pontual, feita inclusive com duras críticas à sua política tanto à frente do governo, como nos movimentos sindicais, estudantis e populares. Já os que pregam por uma aliança pontual com o outro lado da burguesia – a oposição de direita à Dilma – dizem que assim o Estado burguês será desestabilizado, ao mesmo tempo em que será barrada a possibilidade do ascenso de um governo populista/protofascista/bonapartista centrado em Lula.
Aqueles que dizem lutar contra um golpe à democracia parecem esquecer, contudo, que fazendo assim defendem – por mais que digam que não – o governo de um partido responsável por ataques em diversos âmbitos aos trabalhadores. Por um lado, utilizando-se de suas burocracias, sempre tentou sufocar e frear por dentro as lutas da classe trabalhadora, e se empenharam cada vez mais nessa tarefa conforme foram se acomodando confortavelmente no governo federal. Por outro, desde que passou a residir no palácio do planalto, esforçou-se por estabilizar o Estado capitalista, possibilitando condições melhores para os ataques à nossa classe. As constantes alianças com partidos tradicionais da ordem política capitalista brasileira, como PMDB, PP, PSD e muitos outros, elevaram figuras nefastas como Fernando Collor, Paulo Maluf, Renan Calheiros e José Sarney a grandes “companheiros” do Partido (dito) dos Trabalhadores. As promessas de campanha vieram seguidas da nomeação de inimigos declarados de nossa classe, como Joaquim Levy e Kátia Abreu (representantes do capital financeiro e do agroempresariado, respectivamente), a ministérios e a promoção de diversos ataques, sendo o PPE, cortes no FIES, restrição ao seguro desemprego, lei “antiterror” e a proposta de nova reforma da previdência, alguns exemplos. Ao defender o governo federal então, acabam por defender também o petismo com a sua herança e fazer vista grossa para os seus planos futuros: reestablizar o cenário político para voltar a nos atacar com ímpeto ainda maior.
Os que defendem a aliança com setores do empresariado para combater o petismo, também se aproximam de um setor que tem como fim nos atacar. Que busca cada vez mais agressivamente compor um governo de unidade da grande burguesia ao redor do PMDB, por esse ter atualmente, na opinião do próprio empresariado, maior capacidade de implementar as medidas de austeridade que joguem a crise sobre nós e os favoreça, protegendo os seus lucros. Ao mesmo tempo, o fazem sem destacar que as manifestações pró-impeachment tem tido um caráter cada vez mais reacionário, inclusive sendo composto por um número crescente de fascistoides que em hipótese alguma podem ser considerados nossos aliados!
Por fim, aparentemente impressionados com a fantástica repercussão midiática das manobras parlamentares e judiciais, estas posições de conjunto parecem esquecer de se voltar para a realidade ao acreditar que hoje a questão central para os trabalhadores é solucionar o impeachment de Dilma – reforçando a luta por sua caída ou por sua manutenção –, caindo dessa forma, no segundo equívoco principal – o verdadeiro erro de fundo – diante da atual conjuntura.
| Solucionar o Impeachment? Lutar contra os ataques dos capitalistas e seus governos! |
Tanto os que lutam contra o “golpe” (defendendo, assim, o governo petista e suas políticas), quanto os que buscam se aliar com a oposição capitalista de direita para “derrubar” o governo, no fundo acreditam que a principal tarefa dos trabalhadores hoje é solucionar o impeachment. Esse é de fato o problema de fundo, pois ao mesmo tempo em que guia a orientação dos partidos para oscilar entre o petismo e a oposição burguesa, tem sido também o guia de algumas organizações que buscam uma política independente da classe trabalhadora.
Prova disso são as duas consignas principais levantadas pela esquerda para solucionar a crise política: constituinte ou eleições gerais já. Ambas guardam em si a crença no aparato estatal do empresariado, recolocando uma possível política independente dos trabalhadores dentro dos marcos da legalidade democrática, a mesma que é utilizada sem pudor algum para nos atacar. Não há possibilidade alguma que problemas estruturais e sociais sejam resolvidos através de soluções burocráticas e reformistas, como tem insistido grande parcela da esquerda. A crise política é diretamente imbricada com a crise econômica e, sem resolver esta, não é possível a solução daquela. No entanto nada nos indica para a solução da crise econômica, a qual, inclusive é internacional e independe em grande parte da economia e da política governamental brasileira. Querer resolver a crise política sem resolver a contradição do plano econômico, é retirar as formigas de sua casa, sem remover o formigueiro. Não há atalhos tão pouco soluções mágicas na luta de classes.
Perdem de vista com isso, que a crise política e a questão do impeachment em grande medida já se encontram solucionadas à moda burguesa, fruto da dificuldade dos trabalhadores se colocarem enquanto classe nesse processo, enquanto força política independente. Fato é que tudo caminha hoje para o impedimento do mandato petista, visando à conformação de um governo de unidade da grande burguesia ao redor do PMDB.
Por isso, toda a tentativa de solucionar o impeachment invariavelmente leva a atalhos aventureiros – via alianças com setores do empresariado –, ou a políticas imediatistas, que dificultam o preparo da resistência dos trabalhadores. Hoje, com a crise política sendo solucionada pela própria burguesia por dentro do parlamento, não é proveitoso aos trabalhadores manterem o seu foco e os seus esforços nessa querela, mas iniciar desde já os preparativos para a resistência aos ataques futuros!
Faz-se necessário retirarmos o foco das midiáticas querelas palacianas da política estatal capitalista, dissiparmos a cortina de fumaça do espetáculo do Impeachment e da operação Lava-jato, e nos lançarmos com todo empenho ao que realmente nos importa enquanto classe: a defesa de nossas condições de vida e trabalho. Não é nossa tarefa solucionar o impasse no qual se encontra o governo petista. Dada a inexistência de um forte campo político classista e combativo, a superação capitalista da crise política institucional certamente será parcial, instável e danosa, e só poderá resultar na conformação de um governo inimigo dos trabalhadores, que manterá convictamente a onda de ataques às nossas condições de vida.
Se em outro cenário os trabalhadores poderiam ensaiar uma derrubada do governo Dilma partindo da mobilização da própria classe que tem vindo em um crescente de ruptura com o governo petista, esta não é mais uma saída que está colocada. Ao não conseguir erguer rapidamente um movimento independente dos trabalhadores para pressionar esta desestabilização do governo petista, o que se observa foi o surgimento de uma nova direção para a insatisfação generalizada com o atual governo. Agora tanto a palavra de ordem do “fica Dilma” quanto a do “fora Dilma” tornaram-se ciladas para nossa classe, pois esta decisão fugiu das mãos dos trabalhadores em luta e passou para a disputa interna ao Congresso. A briga entre irmãos de classe – dentro de sua própria casa – para definir a sucessão presidencial aponta para uma retomada da legitimidade do aparato político capitalista que, somadas às mobilizações de rua – seja para manter ou tirar o PT do governo federal – inevitavelmente manterá a política de ataques aos trabalhadores.
Se Dilma derrotar o processo de impeachment com o apoio das massas, seu governo ganhará força o suficiente para aprovar com facilidade as medidas de austeridades necessárias para manutenção da exorbitante taxa de lucro do grande capital. Se, pelo contrário, o governo petista for derrubado democraticamente por seus aliados do PMDB, mas lastreado por um amplo apoio popular, este próximo governo igualmente sairá fortalecido para mais fácil esmagar nossas condições de vida. Diante desta complicada situação não há espaço para atalhos aventureiros: a única via que efetivamente importa para nossa classe é a que nos levará a construção do poder independente dos trabalhadores e, para tal, não há alternativa outra senão pararmos de nos preocupar com a disputa pela sucessão do trono capitalista e nos jogarmos, com todas as forças, na luta defensiva contra a precarização de nossas condições de vida e trabalho – é no seio deste combate de resistência que poderemos forjar nossas armas. Faz-se necessário nos voltarmos à luta econômica defensiva a fim de, quem sabe em breve, termos força e organização suficiente para pautarmos um campo político classista.
Hoje não devemos nos perder tentando resolver algo que já foi parcialmente solucionado levantando palavras de ordem como: luta contra o “golpe”, aliança com a oposição burguesa (e ou pequeno/médio burguesa), Assembleia Nacional Constituinte, “Fora Todos!” ou “Eleições Gerais Já!”. Mas erguer a ponte que ligue a defesa frente aos ataques atuais com a resistência que será necessária frente aos ataques futuros: contra os ataques dos governos e da burguesia. Recuperar a capilaridade das organizações revolucionárias no operariado e no conjunto da classe trabalhadora. Seguir com a denúncia do projeto petista para que nossa classe não se arrisque mais uma vez no falido projeto de conciliação de classes. Retomar o caráter combativo e independente nas entidades de base, rompendo com as direções burocráticas e conciliadoras. Construir o poder dos trabalhadores avançando a partir da luta defensiva econômica em direção à construção do socialismo. Com estas bandeiras, nos somaremos ao ato da esquerda antipetista de 1° de abril e chamamos todos os lutadores comprometidos a se somarem conosco!
CONTRA OS ATAQUES DOS CAPITALISTAS E E SEUS GOVERNOS!
ERGUER O PODER DOS TRABALHADORES!