Os projetos capitalistas diante à crise econômica e política

* Continuação de nossa análise de conjuntura

* I. O véu da crise política *

As movimentações políticas tornaram-se nessas últimas semanas o assunto mais comentado pelas mídias de massa e também nas conversas da maioria da população, afinal em momentos de crise surge a necessidade de apontar uma saída para ela. Em toda essa efervescência política aparecem diversas posições mas predominantemente há uma opinião em comum: a de que vivemos um momento muito complexo.

É justamente essa uma das funções da política no capitalismo; a de levar as determinações da realidade para uma esfera que se aparta da vida material devido a sua complexidade. O campo da politica se pinta como difícil pois seu papel é tomar para si a aparência de algo que ele não é. Porém se notarmos onde e como a realidade é verdadeiramente determinada podemos com facilidade compreender os processos políticos e notar que na maior parte das vezes não passa de um circo para desviar a atenção das massas do que realmente importa.

Outra função importante da política, mais especificamente dos políticos, é a de gerenciar o Estado capitalista para garantir melhores condições para a acumulação e reprodução de capital, afinal os políticos e partidos da ordem estão claramente alinhados com os grandes capitalistas. Exemplos recentes disso são amplamente encontrados na política brasileira. O PPE, efetivamente é a redução de salário o que implica numa maior extração de valor do trabalho desempenhado pelo operário. A tentativa da PL 4330, a terceirização das atividades-fim tem o mesmo objetivo – a de redução de salário – mas, além disso, é um ataque direto a organização sindical por categorias, o que reduz a capacidade de resistência dos trabalhadores. A lei antiterror, pois é essencial que em momentos de crise a classe trabalhadora não avance seu projeto político e se a conciliação não consegue mais frear as lutas, cabe a repressão tanto física quanto jurídica garantir isso. Além destes, poderíamos elencar diversos outros ataques já aprovados nas duas casas congressuais e assinados por Dilma, assim como, muitos que ainda estão em debate.

Tendo em mente essas duas funções que são desempenhadas pelo Estado – a de se assumir como o que ele não é e a de garantir os lucros do grande capital – podemos ver qual o campo que verdadeiramente determina a realidade política, e portanto qual o real caráter da crise que vivemos e o caminho que devemos tomar enquanto revolucionários para avançar nossas pautas. O campo principal da realidade, no limite determinante, é o da produção. A política capitalista se pauta por ela. Os burgueses também. E não há motivo para nós trabalhadores não nos pautarmos igualmente por ela. Pois além de ser por excelência o campo mais importante é lá que, enquanto classe, temos a nossa verdadeira força.

Ao encarar a realidade desse modo e reconhecer a crise política como um reflexo da crise econômica internacional, que agora se transpôs para a periferia do capitalismo a fim de garantir a recuperação dos países centrais, podemos notar dois projetos da classe dominante para a superação desta crise.PT-PMDB 3jpg

* II. O projeto petista de conciliação *

“O novo modelo não poderá ser produto de decisões unilaterais do governo, tal como ocorre hoje, nem será implementado por decreto, de modo voluntarista. Será fruto de uma ampla negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica aliança pelo país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento com estabilidade.”

O trecho acima é parte da famosa carta ao povo brasileiro, documento publicado por Lula em 2002 que apresenta de maneira categórica qual será o projeto político que guiara seu governo. O que Lula coloca como uma “aliança pelo país” que trará “crescimento com estabilidade” é o que se concretizou em seu governo: o PT tendo se encastelado na direção de diversas entidades de base importantíssimas da classe trabalhadora consegue congelar o movimento sindical, enquanto os diversos setores do grande capital lucram como nunca antes. Como o próprio ex-presidente expressou “nunca antes na história deste país os bancos lucraram tanto”.

Porém para manter tal projeto econômico é necessário que haja não apenas uma estabilidade no capitalismo internacional, mas uma ascensão. O que de fato houve no início dos anos 2000 até 2008, ano onde se iniciou uma das maiores crises do capitalismo mundial. Em 2008 a crise estoura no centro, alguns países periféricos se mantêm com índices de crescimento muito acima dos índices dos países centrais, o que mostra que a crise não atingiu a periferia com força no momento em que ela explodiu, mas vem tardiamente para recompor os países centrais em detrimento da periferia. No Brasil podemos identificar essa movimentação, se no governo Lula temos um governo que mantêm o pacto de classes com baixas nas taxas de juros, estímulos fiscais e programas de redistribuição de renda, nos mandatos de Dilma temos por excelência um governo de gerência de crise. Já em 2011, o projeto da Nova Matriz Econômica, que por sinal era baseado em propostas de um documento assinada tanto pela CUT quanto pela FIESP, falha em conter a queda crescimento. Esse projeto na verdade não continha nada de muito novo, era baseado em liberar credito, tanto para o consumo quanto para a indústria, e incentivos fiscais para fomentar o crescimento econômico do país. Porém já não estamos em 2002, depois da crise de 2008 não há espaço para esse tipo de politica.

O que vem depois disso são inúmeros e sucessivos fracassos do governo Dilma em conter a crise. Temos a elevação da taxa de juros diversas vezes, aumento do desemprego e cortes nos programas sociais. Temos desde o fim de 2014 um governo que não consegue mais manter a taxa de lucro do grande capital, tampouco conter a classe trabalhadora de maneira eficiente. Isso significa que o tal “novo contrato social” de Lula entrou em decomposição, enquanto o pacto de classes rapidamente se dissolve. O projeto petista de paz social é impraticável, pois a conciliação de classes é insustentável durante a crise, mas, apesar disso, o PT – seus apoiadores e auxiliares – insiste cegamente nesse projeto até hoje.

Indo para os dias atuais com todo esse histórico em mente, vemos que o PT não tem mais função a ser cumprida: é um gestor incompetente para a burguesia e um entrave para a classe trabalhadora. Mas, mesmo assim, setores consideráveis da população ainda insistem nesse partido falido. Agora não mais pelo seu programa enquanto partido, mas sim pela farsesca retórica do golpe. A palavra de ordem “contra o golpe e pela democracia”, espertamente levantada pelo PT e seus satélites invoca, contraditoriamente, todo o histórico que o partido já teve quando de fato era uma ferramenta dos trabalhadores e de quebra se veste com a legalidade de um governo eleito (ainda que somente por cerca de 38% dos eleitores, segundo dados oficiais). Mas esse mote é nulo de significado, se nos atermos a realidade, pois nada que ele reivindica existe – nem golpe e tão pouco a democracia que clama defender.

O tão alardeado “golpe”, não passa de uma substituição de um gestor que perdeu seu propósito,por um que talvez consiga restabelecer no país condições favoráveis para a reprodução ampliada do capital – o que, na verdade, é exatamente o mesmo objetivo do PT. Temos mobilizadas atualmente as bases do PT em defesa do mandato de Dilma, buscando estabilizar o governo para colocar em prática a sua nova proposta para a economia – a reforma da previdência, mais ataques e mais cortes. O PT em nada se diferencia dos outros partidos da ordem, se tornou completamente burguês em sua degeneração e usará dos mesmos métodos dos inimigos da nossa classe para a superação da crise.

* III. “Uma ponte para o futuro”, uma resposta burguesa *

“O ajuste fiscal não é um objetivo por si mesmo. Seu fim é o crescimento econômico que, no nosso caso, sem ele, é apenas uma proclamação vazia. Mas, por seu turno, nenhum ajuste fiscal sustenta-se na ausência de crescimento ao longo da trajetória.”

O trecho acima é do documento “Uma Ponte para o Futuro”, o programa apresentado pelo PMDB para a solução da crise. Assim como a “Carta ao povo brasileiro”, diz muito sobre a linha que seguirão caso assumam o governo. A saída da direita é a aplicação do ajuste fiscal rapidamente para recompor os lucros do grande capital as custas dos trabalhadores.

Concretamente isso implica que medidas como o avanço da terceirização, privatizações, demissões e arrocho salariais serão levados a frente – seja com projetos de leis e emendas constitucionais e em ultima instancia com uso das forças repressivas do Estado, já bem preparadas para a sua tarefa com a recente sancionada lei antiterror.

Os setores capitalistas que antes apoiavam o PT, agora, em grande parte, se reúnem em torno do PMDB, pois ele apresenta a saída mais rápida e segura da crise, com o ajuste sendo empurrado para a classe trabalhadora imediatamente. Porem sabemos muito bem para quem irá esse crescimento e estabilidade e que este se dará a custo do rebaixamento das condições de vida e trabalho de nossa classe.

Com esses dois projetos colocados e sabendo que ambos buscam jogar o custo da crise para nós trabalhadores, a prioridade das organizações revolucionarias deve ser a de se colocar contra tanto ao PT quanto a oposição mais a direita. Mas essa luta não deve ser pautada pelo processo de impeachment e todo o circo político que o envolve. A prioridade no momento deve ser a defesa do emprego, do salário e dos direitos sociais, a fim de garantir a manutenção das condições de vida de nossa classe, mas para além disto, para que nestes processos de luta se torne possível o fortalecimento das entidades e organizações combativas dos trabalhadores. Para levar a frente o único projeto que de fato resolverá a crise – a revolução socialista – é preciso que o movimento sindical, estudantil e popular supere as conciliatórias burocracias petistas e construa sua via classista, combativa e independente de atuação para conseguirmos de fato barrar os ataques que virão e avançar na construção do poder dos trabalhadores.

UNIDADE E LUTA NA DEFESA DE NOSSA CLASSE!
CONTRA OS ATAQUES DOS CAPITALISTAS E E SEUS GOVERNOS!
ERGUER O PODER DOS TRABALHADORES!