Basta de perseguição às feministas

A Aliança Anarquista repudia o veto à participação da Coletiva Feminista Radical Manas Chicas na VII Feira Anarquista. Sob alegações subjetivas, a organização do evento privou mulheres de participarem do espaço, bem como suprimiu o necessário debate dentro do campo do feminismo. Baseados em um conhecimento superficial sobre o que é o feminismo radical privaram todos os visitantes da Feira Anarquista de terem acesso a mais um dos materiais de formação política que estavam sendo distribuídos ao longo do evento e desta forma realizaram um veto puramente ideológico.

Nos intriga o fato de que a Feira Anarquista permite a reunião de diversas linhas do anarquismo, muitas delas completamente divergentes, mas não permite que debates divergentes sejam conduzidos por organizações feministas. Nossa posição é de que a Feira Anarquista é um espaço importante, onde muitas pessoas terão seu primeiro contato com materiais políticos e o silenciamento à participação de organizações feministas é extremamente danoso e só faz afastar ainda mais as mulheres do anarquismo.

A Coletiva Feminista Radical Manas Chicas havia pedido um espaço para vender seus zines e só na véspera recebeu a notícia de que não poderiam participar, eliminando assim a possibilidade de que as companheiras pudessem expor seus argumentos e reivindicar que os organizadores ao menos entrassem em contato com o conteúdo do material exposto. Não houve canal de diálogo, restando à coletiva, e à nós, a publicação de notas de repúdio.

O desconhecimento generalizado acerca do feminismo radical, somado com práticas conscientes de calúnia e difamação contra feministas tem se tornado cada vez mais corriqueiro. Acusada de transfóbica, a teoria do feminismo radical é colocada de escanteio e as críticas ficam girando em falso em torno de um senso comum superficial.

O feminismo radical tem um entendimento materialista sobre gênero e compreende esse como uma construção social. A teoria não prega violência às pessoas trans nem nega que essas podem sofrer e estarem em situação de vulnerabilidade (como é o caso de muitas pessoas trans que estão em situação de prostituição). O horizonte máximo do feminismo radical é a abolição total dos gêneros e não um política de ódio contra indivíduos. Assim a distribuição de zines de introdução sobre feminismo radical e sobre combate à violência contra a mulher (que eram os materiais que a coletiva pretendia vender) não colocam pessoas trans em risco.

Também ressaltamos o fato de que é público que a Aliança Anarquista também defende uma concepção materialista sobre gênero e a nós não foi privada a participação na Feira Anarquista. Assim como não foi privada a participação de várias outras mulheres, também feministas radicais, de estarem nos stands de suas organizações e/ou frequentando o espaço enquanto visitantes.

Com esta nota marcamos publicamente nossa solidariedade à Coletiva Manas Chicas, que mais de uma vez já sofreram perseguições políticas desse tipo, e fazemos um apelo à organização da Feira Anarquista para que pare de privar o tão necessário debate político.

Nenhuma a menos nos espaços políticos!
Erguer a luta contra o patriarcado e o capitalismo!

Imagem: Fotografia de Gerda Taro durante a Guerra Civil Espanhola, 1936.